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06/03/2010 03:00
16 ANOS DO ASSASSINATO DA AUDITORA FISCAL
Crônica de Assis Oliveira A Auditora Fiscal Rita de Cácia Nóbrega foi barbaramente assassinada no dia 04 de março de 1994, em Campina Grande, em frente a um hospital, oportunidade em que aguardava seu marido, após ter ido submeter-se a exames: estava gestante. Um marginal, emaconhado, que passava naquele momento, sem qualquer motivo, desferiu-lhe diversas cutiladas de peixeira, deixando-a ensanguentada no chão. Socorrida para o próprio hospital, veio a falecer poucos instantes depois. Quando seu marido, popularmente conhecido como DEDESA, Auditor Fiscal da Paraíba, chegou para buscá-la, soube que uma mulher fora esfaqueada. Não imaginava ser sua esposa. Aos poucos, com os detalhes que lhe foram fornecidos, descobriu tratar-se dela. Desesperado, viu todo um projeto de vida desmoronar-se. Um destino cruel para um casal jovem e feliz, que a todos transmitia paz e amor, simpatia incomensurável. Tive o prazer de trabalhar com Rita no Posto Fiscal de Equador e de privar de sua amizade durante longos anos. Pude constatar que nossa colega dispunha de um espírito totalmente voltado para a família, os amigos e o trabalho. Apesar de ter nascido em Equador (no Sítio), em 14 de outubro de 1962 (faleceu antes de completar 32 anos) e ser amiga de todos os conterrâneos, ela jamais prevaricou. Nunca colocou a amizade acima dos interesses profissionais; em muitas ocasiões, sofrera agressões morais e ameaças, mas nunca cedeu. Cumpria fielmente os desígnios a que estava submetida. Ao colocar os pés no Posto Fiscal, Rita vislumbrava no amigo um contribuinte e assim o tratava. Tinha no sorriso a resposta para as agressões sofridas. Nunca a vi levantar a voz, mesmo diante das adversidades. Foi dura, muito dura (e precisava ser assim), mas nunca perdeu a ternura. Fã incondicional do Rei Roberto Carlos, várias vezes me disse que o admirava muito porque ele tinha músicas para todas as situações; creio que hoje, na eternidade, ela esteja corroborando comigo, quando afirmo que "além do horizonte" pode ser uma música compatível com o mundo celestial em que ela habita hoje. Quando alguém a agredia moralmente, respondia com um sorriso. Jovem, bonita (LINDÍSSIMA), inteligente, corajosa, culta, amada, invejada e odiada; estatura média, branca, cabelos curtos, costumava vestir-se de calça jeans e blusa (preferencialmente branca) e usava constantemente tênis. Caminhava lentamente e, no percurso para casa (200 metros do Posto Fiscal), abraçava aqueles que encontrava pelo caminho, acenava para outros, amava a todos. Aqueles terríveis anos marcaram profundamente os amigos e colegas de trabalho, contemporâneos daquela barbárie. Havíamos experimentado outra dor e derramamento de sangue antes da morte de Rita, com outra tragédia que abalou a Unidade: A MORTE NO BANHEIRO DO POSTO FISCAL DE EQUADOR. O cozinheiro, conhecido como "PASSO MAGRO", pouco tempo antes cometera suicídio, cujo espectro ainda pairava no ar. O referido jovem de 19 anos, alto e magérrimo, utilizando-se do revólver de um Auditor Fiscal, foi ao banheiro do Posto Fiscal de Equador onde trabalhava e deu um tiro no pescoço, após desentender- se com o dono da arma - segundo testemunho de quem se encontrava trabalhando naquele fatídico dia. Ainda estávamos em estado de choque com a extrema violência supramencionada, quando fomos surpreendidos com o assassinato da amada e inesquecível colega Rita. Quando a notícia da morte da Auditora Fiscal ("guarda", na linguagem popular de então) chegou a Equador, a cidade parou. Foi a maior manifestação pública jamais vista nessa cidade. Todos choraram sua morte, até os "inimigos". Rita foi personagem popular, sem jamais ter sido política. Mantinha um programa de ajuda às pessoas carentes (ainda ativo), procurando minimizar a dor das pessoas menos abastadas. O amor que todos tinham por ela foi, indubitavelmente, o retorno do amor que ela lhes deu. Insofismavelmente, até prova em contrário, não ficou constatato nexo causal entre a atividade fiscalizatória da colega e sua morte. Não há prova de relação de causalidade entre o ato criminoso e sua atuação (correta e íntegra) no fisco, entretanto, há um grande mistério no ar. Por que a colega foi barbaramente assassinada? Por que esse bandido escolheu aleatoriamente a colega para perpetrar sua crueldade? Ele simplesmente drogado, como foi apurado, "escolheu" qualquer um para perpetrar seu ato criminoso. Eles não se conheciam. O modus operandi e as circunstâncias de sua morte consolidam o entendimento de um crime bastante misterioso. O assassino foi condenado a 17 anos de prisão. Quando cumpria a pena que lhe fora imposta, foi morto por um comparsa, anos mais tarde. Pagou com a vida o preço do ato covarde por matar uma mulher gestante e indefesa. Rita hoje dá nome a uma Creche Municipal em Equador. Seus trabalhos filantrópicos permanecem. Seus ideais continuam. Não podemos esquecê-la jamais. Deixou um casal de filhos, pai, mãe, irmãos, marido, amigos e colegas, que ainda hoje choram sua morte. RITA FOI, É E SEMPRE SERÁ AMADA POR TODOS NÓS. Que seu exemplo de luta e obstinação nos dê a força necessária para enfrentarmos, diariamente, situações adversas, em todos os aspectos da nossa vida.