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05 de março de 2024

PAC, Reforma Tributária e juros vão determinar ritmo de retomada dos investiment

 

No ano passado, queda foi de 3%, no pior resultado para o componente do PIB desde 2016

 

Após os investimentos terem caído 3% no ano passado, no pior resultado para este componente do PIB desde 2016, analistas vêm uma recuperação lenta daqui para frente. Os investimentos só devem ganhar tração no fim deste ano ou em 2025. Dúvidas sobre o PAC, a implantação da Reforma Tributária e o ritmo de queda do juros são fatores de incerteza no horizonte.

Gabriel Couto, do Santander, é menos otimista sobre o crescimento dos investimentos em 2024. Ele projeta alta de 0,5%, considerando que o aperto monetário ainda limita setores como o da construção civil. Um aumento mais expressivo da formação bruta de capital fixo só deve acontecer no ano seguinte. Por isso, o crescimento de 2025 deverá ser maior que o de 2024.

— As condições financeiras ainda estão razoavelmente restritivas. Mesmo sob um ciclo de queda dos juros, temos que lembrar que isso atua com defasagem sobre a economia real. E a construção civil é um setor que tradicionalmente sofre mais com essas defasagens. Lá para o final do ano, vamos entrar num território mais próximo do estimulativo e isso tende a se refletir nos dados de 2025. Isso explica a aceleração do crescimento — diz ele, que projeta PIB de 1,5% em 2024 e 2% em 2025.

Em 2023, primeiro ano do governo Lula 3, a economia brasileira cresceu 2,9%, três vezes o resultado previsto no início do ano passado, segundo dados divulgados pelo IBGE na sexta-feira.

Se por um lado a taxa de juros ainda elevada ajudou no controle da inflação, penalizou os investimentos, avalia Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV/Ibre.

— Esse foi o ‘lado B’ num ano de PIB bom. Nem tudo são flores — afirma.

Segundo a economista, já seria esperada uma acomodação dos investimentos após um ciclo muito forte observado em 2021, quando os juros baixos levaram os setores de energia e construção a comprar máquinas e equipamentos. Além disso, o programa de renovação de frota de caminhões lançado pelo governo Bolsonaro em 2022 fez o setor antecipar a venda de bens de capital voltado a transportes.

Por fim, a política monetária foi um outro vento contrário ao avanço dos investimentos em 2023, já que aumenta o custo do capital e torna o crédito mais caro para os setores da indústria de transformação e da construção civil. E a questão fiscal em torno do novo governo fez a taxa de juros acabar permanecendo mais alta e por mais tempo:

Apesar do cenário negativo dos investimentos no ano passado, a perspectiva começa a se tornar mais favorável em 2024. Silvia Matos destaca que já há setores, como o automotivo, que registram absorção maior de máquinas e equipamentos neste ano.

Na construção civil, que amargou queda de 0,5% em 2023, a retomada do Minha Casa Minha Vida deve impulsionar uma alta de 2,6% em 2024. A formação bruta de capital fixo (FBCF) deve crescer 3,5% este ano, após contração de 3% no ano passado.

Mas não dá para esperar um boom de investimentos. A indefinição da alíquota do IVA e a discussão sobre quais setores terão desoneração tributária ainda deixam investidores inseguros no curto prazo, apesar da reforma tributária ser positiva no médio e longo prazo.

Outro fator que enseja cautela diz respeito à velocidade de retomada das obras de infraestrutura diante do novo PAC, num contexto ainda de aperto monetário. A economista lembra que, no cenário de juros altos, o setor tende a pedir condições mais subsidiadas caso o governo queira que os projetos deslanchem mais rápido.

— O problema é que não tem dinheiro e o governo está deficitário. O risco é querer avançar o sinal, com projetos deslanchando mais rapidamente, mas com custo fiscal. O choque de realidade impõe certa cautela — diz Silvia Matos.

Fonte: O Globo

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